há algo de nobre na solidão. no empurrar aquela poeira pra debaixo do tapete e fingir que tá tudo bem, quando, na verdade, o mundo tá desmanchando o que nem construído fora.
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poeira que você vai revirar mais tarde, como se num baú estivesse, procurando por algo que, mesmo você, talvez não quisesse encontrar. partículas de palavras que não escaparam à boca ou caminhos que você deixou de seguir por não saber qual escolher: eram tantas entradas, que, afinal, não havia saída alguma senão ficar parado, escondido sob o medo de ser.
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e, para você, aquela confusão na escuridão ali, embaixo do tapete, era a solução mais iluminada. aliás, você sozinho sempre se achou na própria anarquia e a verdadeira desordem só existia quando tentavam varrer milimetricamente o teu caos -que, mal sabiam eles, estava mais límpido do que suas vassouras-.
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que é o cúmulo da nobreza além da capacidade de a solidão te fazer entender a ti mesmo? sócrates concordaria que o imensidão debaixo do tapete seria ideal lugar para teu aleph, onde tudo o que existe existiria num ponto tão microscópico, que seria visível a olho nu. a microcósmica poeira de ti, reunida num limbo para o qual se varre tudo quanto te apetecer.
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ali, então, tudo o que parece estranho fará sentido. e tudo o que for sentido será numa intensidade infinitamente maior. o aleph do teu tapete nada mais é do que todo o sentimento sentível. melhor fazer dele o maior universo, antes que você, o tapete, seja varrido a contragosto.
Luiz Henrique Ramos tem 21 anos, é recifense e assina uma coluna quinzenal no Livro Leve Solto, aos sábados.
Excepcionalmente, a coluna foi publicada no domingo. O autor do blog e responsável pela postagem está com conjuntivite e não pôde acessar o computador no sábado. Pedimos desculpas aos leitores pela mudança.