Talvez você se lembre de quando aprendeu o que é um neologismo. Por via das dúvidas, vamos dar uma mãozinha: trata-se de uma palavra nova, recentemente criada, fora dos dicionários e da linguagem formal.
Na literatura brasileira, o maior especialista em neologismos foi, provavelmente, o escritor mineiro João Guimarães Rosa, cuja morte completa 47 anos nesta quarta-feira, 19 de novembro. A sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas, por exemplo, tem início com uma dessas palavras inventadas. Trata-se de nonada, um termo que mistura “non” e “nada” para designar algo sem importância.
Essa é a explicação contida no livro O Léxico de Guimarães Rosa, lançado em 2001, pela professora aposentada de estilística Nilce Sant’anna Martins. A obra reúne a definição de cerca de 8 mil palavras formuladas ou resgatadas pelo autor mineiro. Tanta criatividade deve-se ao hábito que ele nutria de estudar e ler em outros idiomas (conhecia 20, aproximadamente, incluindo o português arcaico) e de anotar as expressões populares utilizadas no Sertão brasileiro.
Confira a seguir a tradução de cinco termos cunhados por Guimarães Rosa. Talvez algum seja útil para você, qualquer dia desses…
Enxadachim Designa um trabalhador do campo, que luta pela sobrevivência. A palavra reúne “enxada” e “espadachim”.
Taurophtongo Significa mugido, sendo a palavra uma junção de dois termos gregos, relativos a touro (táuros) e ao som da sala (phtoggos).
Embriagatinhar A mistura de “embriagado” e “(en)gatinhar” serve para designar uma pessoa que, de tão bêbada, chega a engatinhar.
Velvo Adaptação do inglês velvet, que significa “veludo”. Na linguagem de Guimarães Rosa, é o nome dado para uma planta de folhas aveludadas.
Circuntristeza Como a própria palavra sugere, refere-se à “tristeza circundante”. Ficou para o final por ser o meu neologismo favorito.