Nonada, circuntristeza, enxadachim: traduzindo Guimarães Rosa


Mestre em neologismos, Guimarães Rosa faleceu em 19 de novembro de 1967, três dias após tomar posse na Academia Brasileira de Letras

Mestre em neologismos, Guimarães Rosa faleceu aos 59 anos, em 1967, três dias após tomar posse na Academia Brasileira de Letras

Talvez você se lembre de quando aprendeu o que é um neologismo. Por via das dúvidas, vamos dar uma mãozinha: trata-se de uma palavra nova, recentemente criada, fora dos dicionários e da linguagem formal.

Na literatura brasileira, o maior especialista em neologismos foi, provavelmente, o escritor mineiro João Guimarães Rosa, cuja morte completa 47 anos nesta quarta-feira, 19 de novembro. A sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas, por exemplo, tem início com uma dessas palavras inventadas. Trata-se de nonada, um termo que mistura “non” e “nada” para designar algo sem importância.

Essa é a explicação contida no livro O Léxico de Guimarães Rosa, lançado em 2001, pela professora aposentada de estilística Nilce Sant’anna Martins. A obra reúne a definição de cerca de 8 mil palavras formuladas ou resgatadas pelo autor mineiro. Tanta criatividade deve-se ao hábito que ele nutria de estudar e ler em outros idiomas (conhecia 20, aproximadamente, incluindo o português arcaico) e de anotar as expressões populares utilizadas no Sertão brasileiro.

Confira a seguir a tradução de cinco termos cunhados por Guimarães Rosa. Talvez algum seja útil para você, qualquer dia desses…

Enxadachim Designa um trabalhador do campo, que luta pela sobrevivência. A palavra reúne “enxada” e “espadachim”.

Taurophtongo Significa mugido, sendo a palavra uma junção de dois termos gregos, relativos a touro (táuros) e ao som da sala (phtoggos).

Embriagatinhar A mistura de “embriagado” e “(en)gatinhar” serve para designar uma pessoa que, de tão bêbada, chega a engatinhar.

Velvo Adaptação do inglês velvet, que significa “veludo”. Na linguagem de Guimarães Rosa, é o nome dado para uma planta de folhas aveludadas.

Circuntristeza Como a própria palavra sugere, refere-se à “tristeza circundante”. Ficou para o final por ser o meu neologismo favorito.

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